ABREU E LIMA
José Inácio de Abreu e Lima nasceu no Recife em 6 de abril de 1794. Tornar-se-ia um cosmopolita, um herói revolucionário de duas nações, um libertador das Américas. Sim, é pernambucano um dos grandes líderes das guerras de libertação do Continente Americano.
Abreu e Lima, como se tornou conhecido, era filho de um padre, João Inácio Ribeiro Abreu e Lima, o Padre Roma, herói da Revolução Pernambucana de 1817. Após a derrota dos revolucionários, esse Padre Roma seria acusado, preso e enviado para a Bahia, onde foi fuzilado, pasmem, diante do seu filho, o futuro general Abreu e Lima.
Após a morte do seu pai, Abreu Lima partiu para os Estados Unidos. Na Filadélfia, estabeleceu contatos com grupos de patriotas que engenhavam projetos de independência para as nações latino-americanas. Mais adiante, desembarcando na Venezuela, juntou-se aos revolucionários que estavam sob o comando do libertador Simón Bolívar, sucessor do líder Francisco de Miranda. Naquela terra, Abreu e Lima passou a liderar as tropas, embora fosse um oficial, brasileiro de origem. Destacou-se pela bravura na Batalha de Boyacá, que resultou na libertação da Colômbia. Igualmente, o general lutou pela independência do Equador, do Peru e da Venezuela.
Após as perseguições sofridas por Bolívar e o conseqüente ostracismo e morte do patriota venezuelano, Abreu e Lima retornou ao Brasil, pisando no solo pátrio em 1832. Nas suas vivências no Rio de Janeiro, participou ativamente da política. Sofreu ataques do jornalista Evaristo da Veiga. No entanto, não esmorece. Pensa, age, se insurge. O povo passaria a chamá-lo de “General das Massas”.
No Recife, em 1848, por princípio, tomou parte na Revolução Praieira. Vencidos os insurretos, Abreu e Lima é mandado preso para Fernando de Noronha, onde fez surpreendentes observações ambientalistas, tornando-se um precursor da ecologia. Anistiado em 1851, em seguida, publica em 1855, um livro de título invulgar e ousado: O Socialismo, defendendo uma interpretação singular do cristianismo e se referindo ao pensamento de Cabet, Saint-Simon e Proudhon.
Destemido, com idéias para além do seu tempo, o pernambucano Abreu e Lima também defendeu a liberdade religiosa, causando a ira do então bispo de Pernambuco, D. Francisco Cardoso Aires, que na ocasião do falecimento do general, recusa-lhe um sepultura cristã nos cemitérios públicos que estavam sob o domínio da Igreja Católica. Encontra repouso, no entanto, o general de Bolívar, o co-libertador das Américas, Abreu e Lima, numa sepultura simples no Cemitério dos Ingleses, que se localiza onde hoje é o bairro de Santo Amaro. As suas idéias e a sua bravura libertária encimam Pernambuco e nos nutrem para os desafios do presente e do futuro.
Humberto França escritor
Cronologia
6 de abril de 1794: Nasce no Recife, filho do Padre Roma (que apesar de ainda ser conhecido como "padre", já deixara as ordens religiosas). A família é rica, proprietária de engenhos de cana-de-açúcar.
1812: Com 18 anos vai para o Rio de Janeiro. Estuda na Academia Real Militar. Sai de lá em 1816, com a patente de Capitão de Artilharia.
1817: Ano em que o seu pai, o Padre Roma, é fuzilado após ser condenado como um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817. Assiste ao fuzilamento do pai, ocorrido em Salvador (BA). Abreu e LIma e o irmão, Luís Ignácio de Abreu e Lima, que também estavam presos na Bahia, fogem da prisão e seguem para Filadélfia (EUA). A fuga foi organizada pela Maçonaria, da qual Abreu e Lima sempre foi membro.
1819: Decide incorporar-se às tropas de Simon Bolívar. Escreve carta para Bolívar na qual fala de sua formação militar e do fuzilamento do pai, um revolucionário. Diz estar pronto "a sacrificar-se pela independência e liberdade da Venezuela e de toda a América do Sul".
1830: Após a morte de Bolívar, segue para os Estados Unidos.
1831: Volta ao Brasil. Fica no Rio de Janeiro. Defensor da República enquanto estivera lutando com Bolívar, aqui ele apóia a Monarquia. Torna-se defensor de D. Pedro I, considerando que ele poderia tornar-se um novo Simón Bolívar.
1844: Ano em que retorna ao Recife. Escreve para os jornais Diário Novo e A Barca de São Pedro, favoráveis aos chamados praieiros (que iriam quatro anos depois deflagrar a Revolução Praieira).
1845: Candidata-se a deputado, mas não se elege.
8 de novembro de 1848: Início da Revolução Praieira.
1848/1849: Abreu e Lima - que não participara da luta armada, mas escrevera artigos defendendo os ideais da revolta - é preso e condenado à prisão perpétua, acusado de "chefe da rebelião". A pena deveria ser cumprida em Fernando de Noronha. Acabou sendo libertado meses depois.
Seu advogado foi Nabuco de Araújo, pai de Joaquim Nabuco.
Seu advogado foi Nabuco de Araújo, pai de Joaquim Nabuco.
8 de março de 1869: Morre aos 75 anos, no Recife. O bispo Cardoso Ayres nega-lhe sepultura no cemitério de Santo Amaro. As idéias liberais de Abreu e Lima no tocante à religião, expostas nos textos "As Bíblias falsificadas ou duas respostas a Joaquim Pinto Campos" e "O Deus dos judeus e o Deus dos cristãos", o indispuseram com o bispo . Um padre chegou a visitar Abreu e Lima, pouco antes da sua morte, para que ele se retratasse, o que não fez. Abreu e Lima está enterrado no cemitério dos Ingleses.
Livros que escreveu
1) Resumen histórico de la última dictadura del Libertador Simon Bolívar, comprobada com documentos (1820)
2) Bosquejo Histórico, Político e Literário do Brasil (1835)
3) Compêndio de História do Brasil (1843)
4) Synopsis ou dedução chronologica dos factos mais notáveis da História do Brasil (1845)
5) História Universal - desde os tempos mais remotos até os nossos dias, relatando os acontecimentos mais notáveis em todas as épocas e os feitos mais célebres de todos os povos(em dois volumes). 1847
6) O Socialismo (1855)
7) As Bíblias falsificadas ou duas respostas a Joaquim Pinto Campos (1867)
8) O Deus dos judeus e o Deus dos Cristãos (1867)
2) Bosquejo Histórico, Político e Literário do Brasil (1835)
3) Compêndio de História do Brasil (1843)
4) Synopsis ou dedução chronologica dos factos mais notáveis da História do Brasil (1845)
5) História Universal - desde os tempos mais remotos até os nossos dias, relatando os acontecimentos mais notáveis em todas as épocas e os feitos mais célebres de todos os povos(em dois volumes). 1847
6) O Socialismo (1855)
7) As Bíblias falsificadas ou duas respostas a Joaquim Pinto Campos (1867)
8) O Deus dos judeus e o Deus dos Cristãos (1867)
"O horror daquela tremenda noite"
Fuzilamento do pai marcou a vida de Abreu e Lima; abaixo, em texto escrito 30 anos depois, ele descreve os detalhes do episódio
“No momento em que escrevo estas linhas, assalta-me todo o horror daquela tremenda noite, em que fui quase companheiro da vítima: era eu que parecia o condenado, e não ele. Tenho visto morrer milhares de homens nos campos de batalha, e muitos nos suplícios, mas nunca presenciei tanta coragem, tanta abnegação da vida, tanta confiança nos futuros destinos da sua pátria, tanta resignação enfim; era meu pai quem me animava, porque eu parecia inconsolável; uma mão de ferro me arrancava o coração; meu pranto e minha dor comoviam a todos os que se achavam presente; era mister separar-me então para dar alívio às minhas lágrimas, e me conduziam a outra prisão, donde voltava depois a poder das minhas súplicas, até que foi forçoso arrancarem-me de seus braços para sempre. Uma circunstância mais que todas vinha de quando em quando agravar essa espécie de martírio, com que os algozes de meu pai queriam amargurar ainda mais os seus últimos instantes; meu irmão Luís - moço de compleição mui débil e”. delicada - fora preso emsua companhia, e achava-se metido em um dos imundos calabouços do Oratório chamado segredo. Nu em carne, e estendido sobre a lama, mais parecia um espectro do que ser vivente: coberto de lodo, faziam-no sair algumas vezes para que meu pai o visse; nesse momento, terrível para o seu coração de pai, parecia comovido, beijava a meu irmão, e como para distrair-se dirigia a palavra a algum dos sacerdotes, que o acompanhavam. Com toda essa prova tremenda de brutal ferocidade, não fez desmentir, um só instante, sua resignação como filósofo nem como cristão. Chegando ao lugar do suplício, fez um pequeno discurso alusivo à sua situação, desculpando os soldados do ofício de algozes; depois pediu-lhes que atirassem com sangue frio, para não martirizá-lo, e levando ambas as mãos algemadas ao peito, fez delas o alvo dos seus tiros. Durante o Conselho protestou contra sua competência, defendeu-se sem inculpar ninguém e negou-se a todas as sugestões que lhe fizeram, para descobrir o objeto de sua missão; no Oratório ninguémlhe ouvia uma queixa contra pessoa alguma, e no lugar do suplício excedeu em longanidade a todos quantos o precederam na mesma desgraçada sorte. Os baianos viram como morreu o homem livre; a lição devia ficar-lhe impressa".
Na morte do pai, o início do revolucionário.
Aos 22 anos José Inácio de Abreu e Lima foi obrigado a presenciar uma cena que marcaria sua vida para sempre. Ele estava preso numa fortaleza em Salvador, em 1817. No mesmo período, seu pai - José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, o famoso Padre Roma (que havia deixado a batina e feito família, mas mantinha o nome de "padre Roma") - também estava preso em Salvador. Padre Roma era um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817. Fora preso e condenado à morte. O filho, Abreu e Lima (imagem acima, reprodução de quadro do pintor Reynaldo Fonseca), recebeu então uma condenação extra: assistir ao fuzilamento do pai. Ao lado, trechos que Abreu e Lima escreveria cerca de 30 anos depois, sobre o episódio, publicados no livro de sua autoria Compêndio de História do Brasil.
Tributo a Abreu e Lima General de Bolívar - Trecho retirado neste link Fundação Joaquim Nabuco
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